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Gestão de pessoas e a arte do vitimismo - Parte 1.4

Atualizado: 10 de mai. de 2024



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Podemos concordar que gerir pessoas é uma arte delicada, talvez e analogamente comparável a fazer crochet. Diversos tipos de pontos diferentes, cada um com suas particularidades, assim como cada pessoa com suas características únicas, cada indivíduo com sua personalidade, sua história de vida, traumas, perdas, conquistas, derrotas.

Arte delicada. Complexa, que pode afrouxar ou apertar, desfazer, refazer, melhorar, evoluir, mudar as cores, os tamanhos, as distâncias. Gestão de pessoas pressupõem inter-relacionamento, paixão pelo que faz, envolvimento do gestor. Implica em gostar e querer se relacionar, se arriscar, se autoconhecer, não se subestimar e nem ao outro, ter repostas mesmo quando não tem certeza, mas se comprometer é fundamental, saber mudar de opinião, saber dizer "não sei", saber ouvir...

Gestores são humanos e falham. Quanto mais cada um investe em si, mais autônomo, imune e vulnerável se torna às vãs expectativas que fatalmente se criam na mente humana, mesmo nas mais analisadas, como diria um amigo. Principalmente num mundo tomado pelo vitimismo, quando o colaborador e muitos gestores (indivíduo) se escondem na capa de pobre coitado para justificar o que não quer ou não consegue entregar. Pior, quando se esconde atrás das ditas doenças psiquiátricas, esgotamento e burn out... Não que não existam. Mas, sem dúvida, se tornaram as grandes causas do vitimismo de muitos e causadoras dos processos trabalhistas de empregados contra as empresas e gestores.

Costumava qualificar a gestão de pessoas como uma tarefa difícil mas, hoje, apesar da longa experiência e ainda aprendendo a cada dia, com cada história, com cada interação, entendo que, para além de conhecimentos técnicos, é imperativo desenvolver habilidades como comunicação, autoconhecimento, comportamento humano, escuta empática, humildade, saber a hora de calar e de falar e passaria o artigo inteiro descrevendo diferentes soft skills. Não faria nada diferente pelo simples fato de que não se muda o passado. Mas pode-se aprender com ele. E muito!

Wilfred Bion, médico e psicanalista inglês desenvolveu a teoria de comportamento de grupos e realizou diversos estudos relacionados ao tema. Ele descreveu que, em todo grupo, há dois níveis de interação: o nível da tarefa que diz respeito as atividades em si, é racional, cooperativo ou não e está sempre permeado pelo segundo nível, o da emoção, que se organiza com base em três hipóteses que podem se alternar, co-existir e, acabam por ser, eventualmente, o próprio obstáculo a execução das tarefas, funcionando como uma defesa ou negação:

- Hipótese da "dependência" significa que os membros do grupo se comportam como se quisessem ser protegidos pelo líder, suposto detentor do saber que os nutriria intelectual e afetivamente;

- Hipótese "luta-fuga" (fight-flight) significa que o grupo reage como se estivesse ameaçado por um perigo e devesse se defender dele. O líder ou um bode expiatório, interno ou externo, tornam-se então as presas provisórias e aí o evitamento das dificuldades aparece de forma clara;

- Hipótese de base "acasalamento" (pairing) caracteriza os laços que se formam entre dois participantes no interior do grupo, simbolizando a promessa de que os problemas atuais do grupo poderão ser resolvidos. A fórmula "esperança messiânica" é muitas vezes utilizada nesse caso.

Continuarei nos artigos seguintes com exemplos de cada caso acima.


Fonte: Livro Experiências com Grupos - W.R.Bion, 1975, Ed. Imago





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