Gestão de Pessoas e a Arte do Vitimismo - Parte 2.4 (A dependência)
- Patricia Neto
- 10 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de mai. de 2024

Segundo Bion, na hipótese da "dependência" dos movimentos de funcionamento de um grupo de trabalho, os membros do grupo se comportam como se quisessem, ou além, se tivessem que ser protegidos pelo líder, suposto detentor do saber que os nutriria intelectual e afetivamente. Como fica o delicado viés entre autonomia, vitimismo, ameaça, dificuldade em assumir suas reponsabilidades, infantilização, entre diversas outras questões que poderiam ser levantadas em relação aos participantes de um grupo? Mais fácil dizer que não está sendo "protegido ou compreendido" do que assumir as próprias responsabilidades por suas realizações? Haveria alguma relação com o peito materno? Com a necessidade primordial de ser protegido incondicionalmente?
Em que momento o indivíduo perde a noção de sua própria autonomia?
É possível identificar? Interessante perceber que o líder que não assume a postura patriarcal ou matriarcal vira o algoz ao não atender aos desejos do "filhinho ou filhinha". Acho incrível observar este movimento no mundo corporativo.
Através da experiência adquirida sobre relações interpessoais, me sinto muito à vontade para compartilhar experiências não somente para que eu mesma me compreenda cada vez mais e melhor, como também para que eu possa ouvir vocês, escutar suas experiências e debatermos o assunto. Não tem resposta certa. Nem resposta errada. Cada relação é uma. E só se consegue fazer o que é possivel fazer num determinado momento e de acordo com as possibilidades existentes. Prolixo? Evasivo? Realista?
Mas há fatores que podem ser identificados precocemente, percebidos não somente pela intuição mas pelo comportamento recorrente, mapeados em cada um de nós e com quem nos relacionamos. Sempre há riscos e que precisam ser assumidos em maior ou menor monta. E sempre estamos envolvidos, temos responsabilidade direta sobre os relacionamentos que criamos, principalmente quando ocupamos posição de gestão. Não importa o seu nível hierárquico, a relação 360 graus é sempre pautada em expectativas, aprovações, desaprovações, críticas, reconhecimento, acertos e erros. Há pessoas que fazem uso de suas posições, acreditam que podem ser mantidas empregadas simplesmente por conhecer fulano ou ter sido indicado por ciclano. E, ao serem demitidas por não estarem desempenhando seus papéis, sentem ódio e atacam diretamente o seu líder ou empregador. E se acham vangloriadas por isso. É um movimento muito interessante. Isso é muito comum quando o empregado se coloca numa posição inferiorizada, vitimizada, quando se acha protegido ou, inconscientemente, como se a empresa ou seu líder direto tivesse que mante-lo empregado e acima de qualquer suspeita, como numa relação infantil de mamãe-bebê. E quando a "mamãe não dá o que o bebê quer ou o desagrada, o bebê reage com muito choro, faz manha, se joga para trás, se revolta"...Imagine esta situação num adulto... É muito triste e avassaladora, destrutiva para a própria pessoa, apesar dela acreditar que não é bem assim. Pode tomar proporções dramáticas! Por isso defendo que não existe "bom senso".
O ser humano é egoísta por natureza, precisa sobreviver e, diante de uma perda, faz de tudo para se salvar daquela crise. Todos somos assim! Todos! É a natureza humana.
Recentemente repeti a seguinte frase: "Demissão é direito do empregador". Lê-se por "empregador", a instituição. Mas as pessoas costumam misturar os canais. A demissão acontece quando o colaborador não se enquadra mais, não está adequado, seja pelo perfil, pela técnica, pelos soft skills ou o que for. Normalmente, os motivos da demissão nunca são informados. A demissão é decorrente de uma história que o empregado conhece muito bem mas não admite. Feedbacks são claramente oferecidos, contratos entre as partes definidos, mas o empregado está sempre na posição de vítima, se sentindo atacado e acreditando verdadeiramente "que a empresa deve fazer algo por ele". Baita transferência! E a área de Recursos Humanos (ou qualquer nome equivalente, supostamente mais humanizado que se queira dar a RH na tentativa de fazer parecer que trabalham para os colaboradores), estão muito, mas muito distantes de sequer apresentarem uma solução que seja verdadeira e genuinamente voltada para os colaboradores. Sim, oferecem muitos benefícios... mas, para o desenvolvimento de um bom trabalho, isso basta? Não se envolvem senão administrativamente, sempre com um discurso velado de apaziguamento. Enfim, é o caos... Desculpem meus colegas da área em questão. Estou aberta a discutir o tema!
Importante entender que todos estão de passagem numa instituição, ocupando um cargo. Hoje está, amanhã não mais. Poucas são as situações diferentes disso em nosso imenso país. E que alguns estão ali defendendo o seu emprego e não o seu trabalho. Se não há desafio, não há evolução. Comentarei sobre isso num próximo artigo!
Fonte: Livro Experiências com Grupos - W.R.Bion, 1975, Ed. Imago
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